Durante este período difícil, em que tivemos de estar fechados em casa quase sem sair, os alunos foram desafiados a criar os seus diários, com materiais diversos, reaproveitando o que tivessem em casa.
Depois, foram convidados a fazer destes diários os seus confidentes e a desabafar com eles sobre o seu dia a adia, as suas principais preocupações e os seus anseios. Alguns até lhes deram nome próprio, seguindo o exemplo de Anne Frank.
Aqui ficam as páginas/excertos dos colegas que não se importaram de as partilhar.
Domingo, 10 de maio de
2020
Escrever
um diário é uma forma de desabafar o que sentimos, o que nos vai na alma. O
diário, muitas vezes, é o nosso companheiro, o nosso amigo eterno, pois é ele
que espera por nós, aquele que nos compreende e que nos ouve.
Esta
é a minha primeira vez que escrevo um diário, e escrevo-o para desabafar o que
tenho sentido nestes últimos tempos, dizer o que me vai na alma e acho que a
melhor maneira de o fazer é escrevendo um diário.
Então, vou falar sobre a razão pela qual estou a escrever este diário e a razão
para que todo o mundo esteja fechado em casa.
Devido
a uma pandemia chamada Covid 19 (Coronavírus), o mundo inteiro está fechado em
casa sem poder sair. Esta pandemia tem causado muitas mortes e muitos
infetados, o que causa grande tristeza e grande preocupação.
(…)
Em relação às escolas, já não vamos ter aulas
presenciais no 3º Período, o que me deixa triste, porque já tenho saudades da
minha escola: de comer na cantina, de passear pelos corredores, de correr pela
escola, de ver os professores e de poder abraçar os meus amigos.
E assim passo mais um domingo, que na
verdade já nem parece um domingo, pois já não estou reunida com a minha
família, mas vai passando.
Então, aqui termino a minha primeira
página do diário que já vai longa.
Eva,
6ºC
Sábado, 9 de maio de 2020
Querido diário!
Neste
momento quero começar por admitir-te que já não me sinto bem dentro deste
cubículo a que chamo casa. Acho que não sou a única que se sente assim, visto
que estamos há quase dois meses em casa.
A cada dia que passa
fico mais confusa, não sei se me hei de preocupar, por conta do fim do estado
de emergência ou se isso é um sinal de que tudo está a ficar bem.
Até
agora ainda não dei em maluca ou algo do género, mas vou ser sincera: já não
aguento ficar em casa mais um mês. Gostava de ter um superpoder ou dois, o
primeiro para conseguir arranjar a cura para o vírus, o outro seria para que
todos lhe fossem imunes.
Mas
enquanto estou em casa, acho que nada mudou, apenas as saudades do meu pai. Até
agora tudo tem continuado igual, a escola tem sido desgastante, por vezes, mas
se for a pensar pelo positivo, aproximei-me das pessoas com quem moro,
principalmente da minha mãe e do meu irmão.
Só
me tenho preocupado com a possibilidade de alguém da minha família ou grupo de
amigos vir a ser infetado. São quem mais amo e não quero perder ninguém para o
vírus.
Ainda
nem te falei da escola… estou ansiosa, uma nova fase de escolaridade, quero
aproveitá-la como nunca, mesmo que muito provavelmente venha a mudar de turma.
Até pode ser bom, mas acho que vai ser complicado adaptar-me aos professores e
disciplinas novas.
Enquanto
a mesma não começa, vou tentando guiar-me com as matérias dadas a cada
disciplina, pelo computador, com trabalhos, videoconferências, apresentações e
com a ajuda do meu irmão, acho que pelo menos assim não fico um zero à esquerda
na escola.
Bem,
não tenho mais nada para te contar ou desabafar. Não vou mentir... eu comovi-me
ao escrever esta primeira página, mas até foi bom dizer-te o que sinto,
obrigada por me ouvires!
Filipa, 6ºC
Antes de começar a escrever, queria perceber…
“Porquê escrever este Diário?”
Antes a resposta a esta pergunta era muito simples: “porque a minha professora me pediu”, agora, no fim dessa experiência, percebi que é sempre bom ter alguém ou algo com quem desabafar e libertar as nossas preocupações, medos,...
Ora vejam…
Olá, diário… podia começar a escrever-te assim, mas isso é muito vulgar e eu quero tornar-te especial.
Olá, amiguinho…
Preocupação, medo, insegurança, saudade,...
Já alguma vez sentiste isso?
Pois sim, hoje vou contar-te um dia em que esses sentimentos vieram “ao de cima”, um dia especial para um amiguinho ainda mais especial,...
Aqui vai!
Era dia 15 de maio, quando PIP, PIP, PIP,... toca o despertador. Era ainda muito cedo, mas uma coisa fez-me perder o sono e levantar-me rapidamente, era o Dia da FAMÍLIA.
Quando fui tomar o pequeno almoço tudo era diferente, em vez de todos juntos houve um pequeno almoço em que cada um estava sentado numa ponta da mesa, bem longe dos outros. O dia foi continuando, com a adaptação às regras de segurança. Sabes, amiguinho, um vírus apareceu (covid-19) e pôs-nos de quarentena, ou seja, todos em casa, agora há telescola, teletrabalho,...
Sabes, eu estou muito preocupada com a situação em que o país está: cada vez há mais casos, mais mortos e poucos recuperados. Também não falta o medo e alguma insegurança, pois para além de isto tudo a minha mãe ainda é profissional de saúde, o que faz com que ela possa estar em contacto com uma pessoa infetada e o risco de contágio seja maior. Sabes, tenho asma e não posso ficar infetada...
Para além de outras coisas, neste dia estivemos a ver um filme e ainda plantámos uma árvore em família, no âmbito de uma atividade escolar. Ah! Já me esquecia de te dizer que nesse dia houve lugar para muitas lavagens de mãos.
Foi um dia diferente, onde senti a falta do abraço da minha família. Mas com todos unidos e a colaborar, este vírus iremos derrotar!
Assim me despeço, amiguinho
Leonor (6ºC)
14-5-2020
Bom dia,
querido diário.
Hoje faz 3 meses que estou em casa.
Esta quinta-feira apetece-me ir ver
os meus amigos, pois estou com muitas saudades deles, mas devido ao coronavírus
não posso.
Ainda bem que tu és de papel, ao
menos não tens de estar “à seca” como eu. Como agora estou a ter aulas online,
já me vou distraindo um pouco, mas não te preocupes que eu não vou parar de
escrever para ti sobre os meus dias.
Tem sido “uma seca” cá em casa.
Tínhamos de ficar de quarentena logo no ano que eu ia fazer uma “festa de
pijama” com as minhas amigas, mas por causa do Covid-19 não posso. E logo este
ano que também ia conhecer a terra onde a minha mãe nasceu...
Sabes, diário, vou-te contar um
segredo, mas não podes contar a ninguém!!! Sabes, acho que nunca quis tanto ir
para a escola como agora. Sinto falta dos meus amigos, das nossas palhaçadas,
dos professores, dos auxiliares e das aulas presenciais, mas mais uma vez o
coronavírus não deixa.
Por agora é tudo o que tenho para
te contar, querido diário. Quando houver mais novidades, aviso-te.
Até logo.
Beijinhos da
Maria Maria, 6ºC
Domingo à noite, 12 de
abril de 2020
Querido
diário!
Hoje o meu dia seria especial, é Domingo de Páscoa. À
semelhança dos últimos 15 dias, tivemos que ficar em casa, pois o desgraçado do
vírus ainda continua a impedir o convívio com os meus amigos e familiares.
Se o tal de coronavírus não existisse, o dia teria sido muito
diferente.
Logo pela manhã rebentavam foguetes no ar a anunciar a Ressurreição de
Jesus Cristo, vestíamo-nos todos janotas e esperávamos, em família, a chegada
da Visita Pascal para o “beijar da Cruz”. De casa em casa, lá íamos todos
dizendo “aleluia, aleluia” e nos bolsos amêndoas da Páscoa.
À tarde teria brincado com o meu primo Nuno que todos os anos vem de
Lisboa, mas que este ano não pôde vir.
Sabes, agora vou dormir! Isto do vírus deixa-me triste e amanhã tenho de acordar
cedo, é segunda-feira de Páscoa e vou passar o dia com o meu pai. Já sei, vai
ser a mesma coisa, vou novamente ficar em casa.
Já me estava a esquecer de te contar uma coisa: terça-feira continua a
escola mas, desta vez, vai ser diferente, vamos ter aulas a partir de casa. Até
é interessante, mas não é a mesma coisa.
Boa noite, agora vou mesmo dormir!
Martim, 6ºC
17 de Abril de 2020
Olá, querido Bobi,
Estou
a escrever-te a ti, querido Bobi, porque gosto muito de ti!
O Bobi é o cão da minha avó. Eu gostava de ter um cão, mas os meus pais não
querem pois vivemos num apartamento, e o meu pai não gosta de cães em casa! Às
vezes fico triste. Gostava de ter com quem brincar … não tenho irmãos …
sinto-me um pouco só!...
Como sabes, desabafar não é uma coisa que goste muito de fazer, mas sei que
tu podes ser uma grande ajuda.
Parece que o tempo passa e que está sempre tudo bem, mas não é verdade!
Estou sentada na minha secretária a pensar no que pode acontecer no futuro. O
mundo gira e eu aqui. Sei que este vírus está a contaminar o mundo e que
podemos perder as pessoas que mais amamos. Mas com esperança e fé isso não vai
acontecer!
Com este Covid 19, sinto-me presa na maior parte dos dias, principalmente
quando o sol entra pelas janelas do meu quarto, e saber que não posso fazer
coisas ao ar livre, nem estar com os meus amigos, nem ir à escola … isto não é
divertido! Sabes que agora tenho aulas a distância, em que algumas vezes os
professores enviam trabalhos para fazermos e outras vezes temos aulas por
videoconferência… mas outro dia conto-te tudo sobre isso…
Hoje vou contar-te como foi o meu dia…
Apesar de tudo há sempre dias melhores.
Hoje foi um bom dia, é domingo e tínhamos que plantar uma árvore, um
desafio da disciplina de Português. Então fomos para um terreno verde e amplo
que os meus pais compraram e aí pude andar de bicicleta até ficar com dor de
pernas! Esse terreno também tem uma vinha, várias árvores por ex.: laranjeira,
macieira, nespereira, nogueira...
Corri muito, joguei futebol com o meu pai, e como já te tinha dito plantei
mirtilos com os meus pais. Quando cheguei a casa estava cansada, mas ainda
acabei os trabalhos da escola, toquei guitarra no meu grande, dócil e fofo
tapete rosa, cozinhei com o meu pai (uma canja de galinha que adoro e um
hambúrguer delicioso). Foi um dia muito divertido!
Amanhã vai começar mais uma semana, em que não posso ir à escola, vou ter
aulas à distância. Mas não posso desistir, o que hei de fazer?
Continuar a estudar, brincar, tocar piano e guitarra, desenhar, pintar,
cozinhar… como se estivesse tudo normal?! Não está, mas espero continuar a ter
dias divertidos como hoje …
Por agora temos que seguir as regras de segurança, para nos protegermos,
para daqui a algum tempo poder voltar à escola, brincar com os meus amigos…
Só queria que isto passasse!
Até breve…
Matilde, 6ºC
(…)
A minha vida levou uma grande mudança, porque estava habituado a ir à
escola e a ver os meus colegas todos os dias e agora, devido à pandemia, não
tem sido possível, mas sinto muita falta dos meus colegas, porque brincávamos
juntos, íamos à cantina todos juntos e sinto falta desses momentos.
Estes dias de pandemia têm sido
difíceis, pois temos de estar em casa e é complicado não estar com as pessoas
de quem mais gostamos, que são a nossa família, que são muito importantes para
mim e, claro, os meus colegas de quem também sinto falta. (…)
Rodrigo, 6ºD
Nesta quinta-feira, acordei de maneira diferente, com
os meus pais e o meu irmão a cantarem-me os parabéns. Eu logo acordei cheio de
entusiasmo, mesmo sabendo que os meus familiares (avós, tios e primos) não iam
poder estar presentes.
Neste dia não estava muito ocupado, por isso
pus-me a refletir sobre o que pode vir a acontecer, devido à pandemia.
Perguntei-me se a vacina chegará a tempo...? O que aconteceria se apanhasse o
vírus? Quando é que isto tudo irá acabar?
Há algumas semanas que não vejo pessoalmente os meus
tios, primos e avós, família que me faz falta. Nunca pensei que algum dia teria
de passar por esta situação, de estar em casa 24 horas por dia.
E o regresso à escola, como e quando será? Eu
imagino-me a ir ter com os meus amigos e professores, para estarmos novamente
juntos, mas com a devida precaução.
Matias, 6ºD
Hoje é dia 9 de
maio de 2020.
Está quase a
fazer dois meses que estou em casa, sem ver os meus amigos, os
professores, os funcionários, a escola…
Já
tenho tantas saudades de tudo, mesmo das coisas de que menos gosto.
Não
saio de casa desde o dia 13 de março, a não ser para ir ao pátio brincar com o
meu irmão.
Hoje
acordei um pouco mais tarde, pois aproveitei que não tenho aulas, para dormir
mais um pouco. (…)
Depois
do almoço (que foi lasanha que a minha mãe fez, e eu adoro), aceitei o
desafio proposto pela professora de Educação Física, Isabel Demar, e fomos
em família fazer uma caminhada para comemorar o Dia da Família que se assinala a
15 de maio.
Fomos
caminhar pela estrada que liga Sátão à Trêmoa.
O meu
irmão levou a bicicleta dele (foi a primeira vez que andou de bicicleta sem ser
no pátio aqui do prédio), para praticar andar na estrada. Ainda caiu uma
vez, mas até que se portou muito bem. Estou orgulhosa dele!
A caminhada não pôde ser muito longa porque
a minha mãe não pode fazer longos percursos, mas deu para nos divertirmos
em família, era esse o objetivo.
Depois
da caminhada, fui fazer os trabalhos de Ciências Naturais, Português, Cidadania
e Educação Visual, que também eram sobre a família. Deram bastante trabalho,
mas valeu a pena.
Para terminar o meu dia,
depois de jantar, li um pouco antes de dormir. Comecei a ler um “calhamaço” que
a minha mãe me ofereceu a semana passada (ela sabe que eu adoro ler).
Mas
por hoje já chega, está na hora de dormir.
Mariana, 6ºD
Quinta
feira, 30 de abril de 2020
Querido diário, vais ser meu confidente durante esta
quarentena.
Neste tempo de pandemia, em que temos todos que ficar
em casa, sinto que estou mais próxima dos meus pais e do meu irmão e os conheço
melhor. Está a ser um grande desafio!
(…)
Pratico exercício físico com a minha mãe no final do
dia e agora também já começamos a fazer caminhadas em zonas isoladas.
Assistimos a séries na televisão, jogamos jogos de tabuleiro, fazemos mais
bolos que o costume e algumas arrumações que já estavam prometidas, mas ainda
não tinha havido tempo para elas.
Para combater as saudades, que já são muitas, falo com
os meus avós, restante família e amigos por videochamada.
Resolvi começar hoje a escrever-te, porque apesar de
estar a gostar de passar mais tempo com a minha família, estou ansiosa para
recuperar a minha vida no seu ritmo normal e hoje, mais do que nunca, sinto-me
saturada desta quarentena.
Às oito da manhã, mais uma vez, o meu despertador
tocou para me fazer lembrar que me esperava mais um dia inteiro de aulas
online, à frente do computador. O que ao princípio parecia cativante, agora
está a transformar-se em saudades. Saudades dos colegas, das salas de aula, dos
professores, enfim da minha escola e da minha liberdade.
Talvez esteja com mais saudades pelo facto de ter
visto os meus colegas e o professor de matemática, numa aula em
videoconferência. Por um lado, fiquei feliz por ver de novo as suas lindas
caras e saber que todos estavam bem, mas por outro fiquei ainda com mais
saudades e com vontade de que voltasse tudo ao normal.
Vou fazer uma caminhada com os meus pais, pelo menos
saio um pouco de casa, apanho ar puro. Não te assustes, querido diário, vou
pela mata onde não se encontra ninguém!
Até já ….
Mafalda, 6ºD